23 de ago. de 2010

A árvore


Certo dia um sábio, peregrinando pelo mundo, caminhava por uma terra longícua e desabitada. Quando de longe avistou um monte e em seu topo uma grande árvore; seu coração palpitou: "tenho sede e estou cansado, à sombra daquela grande árvore haverei de descansar". Porém, a mente logo interveio: "estás exausto! Caminhe somente até a metade do caminho, tens tua tenda não necessitas cansar-te ainda mais caminhando até o topo daquele monte". O sábio, já conhecendo os truques da mente, silenciosamente, sem titubear, continuou a caminhada rumo ao topo do monte.

Lá chegando, maravilhado, disse: "Bendita és tu! Debaixo dos teus galhos encontrei sombra para meu corpo cansado, no frescor de tuas folhas respiro aliviado, dos teus frutos comerei". Percebeu ainda que por detrás do monte havia um lago; "ali haverei de me lavar e saciar a minha sede" pensou o homem. Dissera ainda: "daqui do alto tenho a visão, do caminho que devo tomar daqui por diante". Então  armara sua tenda e sobre as raízes daquele mejestoso ser recostara a cabeça, admirando os astros por boa parte daquela noite. Ao raiar o dia, o sábio homem tirou de seu bolso um cristal, que a muito tempo o acompanhava. Escreveu algumas palavras em um pedaço de tecido pardo, no qual a pedra estava envolvida. Ofertara a pedra à árvore, seguindo, assim, seu caminho em paz.

§

Depois de outro tempo um jovem andarilho, cansado, avistara a grande árvore. Mas, percebendo a altura do monte e a íngreme subida até o topo do monte amaldiçoou a grande árvore: "Porque escolheste fincar tuas raízes no topo daquele monte, porque tão alto? Porque tão longe? Porque és tu tão cruel?" Mesmo em lamúrias e já sem fôlego, o jovem decidira a continuar a caminhada até o topo.  Quando chegara ao topo e à sombra da árvore sentira uma forte presença. Percebera, ainda, o magestoso lago guardado pela ascensão do monte, visível somente aqueles que naquela altura escolhiam subir. O jovem comeu, bebeu e armou ali a sua tenda.

Ao cair da noite, envolvido pela presença da grande árvore, questionava: "porque parte de mim vê o infinito enquanto a outra é tão limitada?" E olhando às estrelas ouvira: "porque atentas tu somente às vossas dificuldades? Porque preocupais a vós em chegar quando é a jornada que vos trará o que buscas? Porque amaldiçoais coisas das quais não entendeis? Os vossos medos são as vossas limitações, que diante de vós estão para serem transpostos; assim como transpuseste a altura deste monte. Agora mesmo já não vos deitais no seio da mãe e dela comeis e bebeis? A mesma que amaldiçoastes pela vossa pequena fé? Entendas, viajante, se o vosso coração fala confiais. Não importa qual seja a instrução, confiais pois na vossa intuição. Como haverá a vós de chegar, se não crês na vossa própria voz?" Cansado, o andarilho adormecera.

Ao amanhecer do dia, o jovem notara algo debaixo das raízes da árvore, onde recostara a cabeça. Percebera um tecido pardo, bordado com delicada lã vermelha. Cuidadosamente, abrira parte por parte o tecido para ver o que envolvia. Foi quando um lindo cristal saltara-lhe aos olhos! Entretanto, o que havia por dentro do tecido impressionara-lhe: "Viajante, que não te enganes. A vida de um viajor é repleta de aventuras e belas paisagens. Todadvia, se a sensibilidade lhe falta nunca chegarás." O jovem rapaz envolveu o cristal no tecido e  o colocou de volta nas raízes da grande árvore e seguira em viagem.

3 comentários:

Shakti disse...

Muito lindo querida, parabens e obrigada por dividir conosco... bjao no coracao Hladiny
Shanti, Shanti Om ;) Tenha um lindo dia!!

Adriano Sargaço disse...

que texto lindo, bela!
obrigado por se deixar fazer parte dos caminhos.
beijos

Gabriela disse...

Lindas palavras,
Grande poder terapeutico!
Amém!