30 de abr. de 2012

Hora de catar o lixo

    Não poderia deixar de falar de um documentário que assisti essa semana chamado Wasteland (2010) (Lixo Estraordinário). Wasteland aborda um tema por demais relevante não só para o principal protagonista, o mestre em arte moderna Vik Muniz, mas para toda a raça humana. O paulistano foi morar em Nova York em 1983. A viajem foi resultado de uma indenização que Vik recebeu por ter sido baleado injustamente. Vik teve seu trabalho reconhecido devido à forma original com que manipula matérias inusitadas em suas obras como o açúcar, catchup, chocolate e até a manteiga. Mas, foram seus retratos feitos com lixo que o canonizou. O documentário, gravado no então maior aterro de lixo do mundo durante 2 anos (agosto de 2007 a maio de 2009), no Gramacho Rio de Janeiro, narra em ação um grande exemplo para a sociedade - a vontade de viver de indivíduos sem nenhuma identidade social - os catadores de lixo do aterro.

Vik superou as expectativas, mexeu com o brio daqueles que ignoram o problema, tocou o coração dos que se importam. Não poderia ter sido diferente tamanha à originalidade da idéia; construir imagens dos catadores com o próprio lixo. Alguns chegaram a viajar para Londres para acompanhar o leilão das obras, todo revertido para a associação dos catadores, uma classe de indivíduos ignorada pela sociedade, quando não diferenciada. Gente simples, com sangue nas veias e uma dura realidade para trilhar; a de catar lixo para sobreviver economicamente. Apesar da dura realidade que vivem os catadores, impressionam pela humildade; trazem uma lição de amor e responsabilidade. Às vezes a revolta; e quem não teria um tiquinho catando lixo? É um tapa na cara, uma dor no peito, uma coceira na cabeça, um choro sentido. Uma luz no fim do túnel, uma inspiração certeira, uma voz de esperança. Wasteland permeia luz em meio às camadas escuras do entulhado ego humano, que cego pela a ilusão de que quem precisa de ajuda é apenas o 'pobre do catador' quando somos nós, os letrados, quem precisamos educar nossa consciência à saber para onde nosso lixo vai. Wasteland é um estraordinário contraste entre a arrogância dos 'limpos' e a pureza dos indivíduos que habitam o lixo.

Um comentário:

Giselle Barboza disse...

Ouvi várias críticas negativas sobre o filme citado acima. Uma delas é o fato do Vik Muniz ter se aproveitado da situação para promover o seu trabalho. Antes de responder, direi que minha resposta é um pedaço de mim. Se Vik aproveitou ou não não importa, é óbvio que o trabalho ia precisar ser exposto, consequentemente o artista que se atreveu a fazer a obra. Pois as obras iriam ser vendidas em leilão, e o dinheiro revertido à associação dos catadores. E quanto ao dinheiro? O mínimo esperado é que ele realmente tenha sido usado sabiamente. Ouvi também o fato de o aterro ser fechado, e sobre a preocupação da inclusão social dos catadores. Resta acreditar que os catadores desempregados consigam mudar o rumo de suas vidas, e consigam meios de sobreviver economicamente fora dali. O que importa é a mensagem do filme, que indiferente se todo o mesmo tivesse sido manipulado para ganhos próprios a questão do lixo ali tratada é real, e mora dentro de nós. Portanto o filme é útul.