"É certo, Príncipes Soberanos, que onde há tais
terras devem existir inúmeras coisas de valor (...) dos índios que tenho comigo
entendo uma coisa por outra, e não tenho grande confiança porque muitas vezes
tentam fugir. Mas agora, para agradar nosso Senhor, farei o máximo para
gradualmente entender mais desta linguagem, que percebo ser uma só até agora. E depois, os benefícios se tornarão conhecidos e esforço será
feito para que todos sejam catequizados (...) E Vossa Alteza terá uma cidade e uma
fortaleza construídas por estas bandas, e essas terras serão convertidas para
Vosso benefício"(Fragmento do diário de Colombo, em sua primeira viagem às
Américas - 1492)
Desde as primeiras viagens de descobrimento o fenômeno
da integração global teve início. O mito por trás da imagem acima data mais
de seis séculos, mas ainda conta a história sobre como as estruturas
sociais foram criadas com base na idéia de catequização, ou seja, imposição de
valores como sinônimo de integração, e desenvolvimento como condição de um
progresso desumano. Apesar da globalização ter como idéia fundamental a
integração humana, a mesma não passa de uma simples continuação de um longo
processo histórico de expansão imperialista, com vistas coloniais hegemônicas. Ou seja, a imposição dos valores ocidentais sobre culturas tidas como
"primitivas" e involuidas.
O que o mundo está vivendo hoje, a partir de uma
perspectiva geral, é a intensificação das relações humanas através do desenvolvimento
tecnológico e da interdependência econômica. Entretanto, é importante
salientar que a globalização é um processo desigual. Além disso, a sociedade
global está entrelaçada em um sistema capitalista monetário onde a dominação
encontra suas formas através do controle de remotas partes do mundo, por
emprego de mão de obra barata para sustentar impérios corporativos.
Considerando o número de sociedades que desapareceram
como conseqüência da hegemonia imperial, isso claramente aponta para a forma
como o fenômeno multifacetado da globalização, que remonta a modernidade, não é
apenas a homogenização da cultura, mas também o de privar indivíduos de uma
escolha consciente na participação de sua evolução cultural, uma vez que são
obrigados a aceitar valores que não são seus. Vale a pena mencionar que o
comportamento - um fenômeno humano altamente ditado pela cultura - como
proposto pela antropóloga Margaret Mead, é aprendido e transmitido pela cultura
local. Assim, o processo de culturalização toma forma não mais como um
conjunto de valores transmitidos, mas sim como um produto no qual os indivíduos
geralmente adquirem através de tendências globalizadas.
Com isso, os fluxos de uma cultura global fundamentada
no consumismo cria clientes para os mesmos bens, serviços, e padrões mentais. Não
é segredo como a cultura ocidental teve seus valores empurrados em distantes e
exóticas sociedades através do processo colonial, aniquilando por completo
identidades locais, substituindo-as por valores padronizados. Por isso, o que
está acontecendo não é um consciente e igual progresso, onde a diversificação
cultural de diferentes origens são dadas as mesmas chances de serem quem são e viver
a vida como querem. Mas sim um processo de tirania cultural e padronização,
onde aqueles com maior poder econômico ditam como as pessoas de mais baixa
ordem social devem viver suas vidas, se comportar, e consumir.
Não
devemos esquecer das verdadeiras forças por trás do fenômeno da globalização, capitalizada na servidão, mesmo quando se impõe através de um sistema de
mérito. Por essas e outras razões, os laços entre a cultura e o local
estão ficando cada vez mais fracos. Apesar de se apresentar com unicidade e integridade, a realidade que vem sendo construída está cada vez mais fragmentada. A pergunta
que devemos fazer a nós mesmos, portanto, não é se a globalização leva à homogenização
da cultura, pois para isso já temos a resposta. Mas sim como as culturas de
menor proporção podem conseguir sobreviver para as futuras gerações. Afinal um
mundo onde a igualdade opera em nível ideológico só poderá dar vazão para uma
diferenciação social ecômica. E isso nós já sabemos onde termina... guerra.
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